É extremamente difícil ser o bode expiatório da família!
Ao longo da história e culturas, diferentes religiões realizaram sacrifícios rituais para expiar seus pecados, males e sentimentos de culpa da comunidade. Em muitas ocasiões foi escolhido um animal que, apesar de ser completamente alheio e inocente aos problemas da comunidade, foi sacrificado pelo “bem comum”.
Esse costume é conhecido como bode expiatório e é um fenômeno psicológico que não se limita à sociedade, mas também se estende a grupos menores, como a família.
Em famílias disfuncionais, não é incomum que um de seus membros desempenhe o papel de bode expiatório. Ele se torna a pessoa que carrega toda a culpa e, de certa forma, carrega sobre os ombros o peso do delicado equilíbrio familiar.
O papel do bode expiatório na família
A estratégia mais segura para manter um grupo coeso, controlado e olhando na mesma direção é designar um inimigo comum. É uma tática usada por governantes, mas também apreciada em famílias tóxicas. Nesses casos, eles escolhem um membro que se torna o repositório das insatisfações, frustrações e culpa da família.
O bode expiatório da família tem duas funções principais, conforme revelado por psicólogos da Universidade de Kansas:
Minimiza o sentimento de culpa da família por sua responsabilidade diante de um resultado negativo, ajudando-a a manter uma imagem mais positiva de si mesma e de seu funcionamento.
Preserve o senso de controle, pois o bode expiatório fornece uma explicação clara para um resultado negativo que, de outra forma, nos pareceria inexplicável, a menos que a família assumisse total responsabilidade.
Em outras palavras, o bode expiatório desempenha um papel de liderança na narrativa que a família constrói para se exonerar, tornando-se o reservatório de todos os sentimentos, atitudes e comportamentos negativos que não deseja reconhecer como seus.
O bode expiatório se torna uma ferramenta para explicar o fracasso familiar ou más ações, preservando uma imagem positiva.
Essa pessoa, considerada a ovelha negra da família, permite que os membros pensem que são uma unidade mais saudável e funcional do que realmente são. Eles pensam que se não fosse por aquele indivíduo, a família seria perfeita e feliz.
A teoria do bode expiatório em famílias tóxicas também explica que essa pessoa atua como uma espécie de válvula de escape para liberar as tensões que se acumulam na família, para que ela não se desintegre causando grandes conflitos entre todos os seus membros. Que podem levar a violentos comportamento.
Como o bode expiatório é escolhido na família?
Nas famílias, não é incomum que uma criança seja o bode expiatório. Alguns pais e / ou mães usam o filho como bode expiatório para dar vazão a suas frustrações e culpá-lo por seus erros.
O membro escolhido se tornará o inimigo número um de toda a família. Ele será a pessoa que todos apontam como gerador de conflitos familiares, mesmo que esteja a milhares de quilômetros de distância ou mesmo que praticamente não tenha mais nenhuma relação com o sistema familiar.
Às vezes, o membro da família mais fraco ou mais sensível é escolhido.
É improvável que essa pessoa responda a tentativas de culpar e humilhação, mas estará disposta a carregar o fardo que colocou sobre seus ombros. Frequentemente, mesmo esse padrão de abuso é justificado como necessário para “fortalecer” aquela pessoa.
Porém, o mais comum é escolher o membro mais forte ou mais rebelde, pois geralmente é o que mais gera problemas e costuma ir contra a dinâmica familiar tóxica estabelecida.
Pode ser o membro mais inteligente da família ou o mais independente que, de uma forma ou de outra, ameace a autoridade do líder. Em geral, também são pessoas com um senso de justiça mais desenvolvido do que o dos demais membros da família.
A família o percebe como “diferente”, então ele passa a achar que faz tudo errado, é rebelde e ingrato. Ele acredita que este membro não aprecia o “amor” que recebe em casa, por isso é responsável por criticá-lo, reprová-lo e culpá-lo.
As consequências psicológicas da rejeição e da culpa
Ser escolhido desde tenra idade como o bode expiatório da família muitas vezes tem consequências para a vida toda. Muitas vezes são pessoas que não confiam em si mesmas ou nos outros, têm baixa autoestima e se culpam pela forma como os outros os tratam, tornando-os mais vulneráveis a abusos e manipulação.
Frequentemente, também são pessoas que experimentam profundo ressentimento, pois o amor e a validação emocional que deveriam ter recebido na família lhes foi negado. Nesses casos, eles podem se tornar pessoas que reagem com raiva em seus relacionamentos interpessoais.
No entanto, o mais comum é que se comportem como uma espécie de “redentor” porque, inconscientemente, acreditam estar em dívida com os outros, de forma que muitas vezes carregam problemas que não lhes pertencem e podem até se dedicar à busca de objetivos. em detrimento de suas próprias necessidades e aspirações.
Como deixar de ser um bode expiatório na família?
Infelizmente, o bode expiatório é frequentemente representado por uma criança que não tem a capacidade de se libertar do papel que lhe foi atribuído. Em qualquer caso, a existência de um bode expiatório na família implica que existe uma dinâmica disfuncional que deve ser abordada.
Não é incomum que a “ovelha negra” da família cresça o suficiente para se tornar independente rapidamente para sair daquele ambiente tóxico. Porém, sem uma intervenção terapêutica ou sem cortar totalmente os laços, é difícil deixar de ser o bode expiatório da família.
Mesmo assim, o processo de deixar de ser bode expiatório não começa no ambiente familiar, mas na própria pessoa.
Você precisa se livrar do sentimento de culpa e entender que não precisa arcar com as responsabilidades dos outros.
Se você é o bode expiatório da família, você precisa construir a sua autoestima e focar nos seus traços positivos que sua família nunca destacou, isso lhe dará forças para lidar com esse ambiente tóxico.
Também vale a pena estabelecer limites com a família, deixando-os saber que não farão o que querem com você.
Origens: Rothschild, Z. et. Al. (2012) Um modelo de duplo motivo de bode expiatório: deslocando a culpa para reduzir a culpa ou aumentar o controle. Jornal da personalidade e psicologia social ; 102 (6): 1148-1163.
Frear, G. (1991) René Girard on Mimesis, Scapegoats, and Ethics. O Anual da Sociedade de Ética Cristã ; 12: 115-133.
Cornwell, G. (1967) Scapegoating: A Study in Family Dynamics. The American Journal of Nursing ; 67 (9): 1862-1867.
*DA REDAÇÃO SAG. Informações RT. Foto de Allef Vinicius no Unsplash
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