De repente, um piso do apartamento solta, já que está na garantia, peço a construtora a manutenção. Então, o pessoal da vistoria vem com a notícia: teremos que tirar todo o piso e colocar um novo. Colocaremos vocês em um hotel enquanto isso, mas preciso que antes guardem tudo, o máximo de coisas que puderem, em um cômodo.

De repente uma sensação estranha começa a invadir meu coração, uma vontade de chorar e ao mesmo tempo desabar no chão e esperar que alguém resolva. São muitas coisas. Coisas!

Quantas coisas adquirimos ao longo da vida, quantas bagagens e fardos acumulamos ao longo do caminho. Não sei explicar aquela sensação que me subiu pelas pernas e ficou batendo no coração, mas tenho certeza de que está relacionada ao apego. Apego às coisas.

Levamos um dia para guardar tudo, foi um “tira aqui, coloca lá, junta pra cá” E junto dessa bagunça as lembranças vieram: a primeira vez que olhei esse apartamento na maquete, depois a espera pela entrega e em seguida a primeira vez que pisei nele. Até ali, ele não tinha nada. Nasceu limpo, puro, livre de coisas. Mas dois anos se passaram e lá estão todas as coisas necessárias à existência atual e todas as outras mil coisas completamente desnecessárias.

Pensei, se eu consegui acumular tanta bugiganga em um espaço tão pequeno e em tão pouco tempo, imagina o que tenho feito com a minha mente, meu coração e meu corpo?

Quantas coisas estou acumulando ao longo da vida, bem parecidas com aquela caixinha que fica guardada no armário e que tem o nome de: ‘vai que precisa’. Com tantas facilidades, uma caixinha ‘vai que precisa’ é tão desnecessária quanto todo o resto.

Fui chamada para mudar as coisas de um cômodo para outro, porque já haviam terminado a primeira parte. Quando abri o quarto pensei: Meu Deus! Para que tudo isso?

Não preciso, não uso, estou enjoada disso. Depois da frustração um pouco incômoda, pensei em jogar tudo fora. Melhor colocar todo esse desnecessário no lixo, mas uma pontinha de apego, lá dentro, gritou: Não. São lembranças, histórias construídas, momentos para recordar. E eu preferi mudar tudo para o outro cômodo e resolver isso quando voltar para casa.

Já pensei em chamar alguém de fora para me ajudar a tratar tudo aquilo sem muito envolvimento e emoção, mas a voz lá dentro diz: Alguém insensível, é isso que você quer?

Quantas vezes fazemos isso com a nossa vida? Quantas vezes mantemos relacionamentos cheios de lixo emocional e completamente vazios de empatia e afeto, porque estamos apegados a memória emocional?

Quantas vezes deixamos de construir uma carreira de sucesso, porque temos medo de faltar o ‘vai que precisa’?

Quantas vezes deixamos de ver uma janela aberta com ventos fortes, que nos renovam, porque estamos presos aos acúmulos que estão tampando a nossa visão?

No meio do caminho de acumular emoções, sentimentos, ideias, também vamos cozinhando os acontecimentos esperando uma outra hora, uma nova oportunidade, um outro caminho ou momento. E, dia após dia, passamos sem olhar pela janela porque está cheia de coisas, esquecemos da luz do dia e a caixa de ‘vai que precisa’ fica guardada anos no armário, intocável, os sonhos ficam espalhados pelo chão, perdidos, sem saber quem realmente são.

A sensação do desapego é difícil porque não sabemos selecionar o que deve ficar, o que deve ir. O aprendizado é sempre bem-vindo, mas o remorso é preciso ir. As alegrias das histórias podem ficar sempre vivas na memória, e dos momentos de dor devemos tirar uma bela lição e deixá-los ir.

Toda a trajetória de luta, desafios, perdas, desilusões podem servir de lição e exemplo para muitas outras pessoas, desde que no seu contexto toda a dor e tristeza sejam transmutadas em vitória.

Estão me entregando um apartamento novo e o que eu vou fazer com ele?

Recomeçar.

Essa é a mágica da vida! Deus nos dá a oportunidade de começar diferente ou de recomeçar de onde paramos, esse é o nosso livre-arbítrio.

Temos o melhor e o pior, todos os dias, o caminho que vamos seguir parte da nossa escolha e se quisermos colecionar boas histórias, já sabemos qual o melhor caminho.

Olhar para o nosso quartinho da bagunça e para os nossos acúmulos, nem sempre é fácil! Principalmente se eles estão colocados de forma ordenada, parece que sempre estiveram ali.

Por isso que de vez em quando a vida traz com ela um furacão para dentro da nossa alma, tirando tudo do lugar. E no meio da bagunça a gente percebe o quanto de coisas acumulamos e o quanto de coisas precisamos jogar fora.

Só assim, depois de dias bagunçados conseguiremos a ordem e quando tudo volta ao normal, restam-nos as memórias, sejam elas dos dias bons, dos dias ruins, da bagunça, das coisinhas que não precisávamos…. e, ao final, resta a nossa decisão:

O que eu faço com essas memórias? Combustível para o amor ou para a dor? A escolha é sempre nossa!

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Carol Daimond, mineira de Divinópolis, bacharel em Direito e apaixonada pelas palavras entrelaçadas, mãe, mulher e terapeuta thetahealer, uma mistura de mulher que a cada dia se reinventa em busca da sua melhor entrega em partilha para o mundo. Sua jornada como escritora começou de brincadeira e tem se tornado cada dia mais a sua marca pessoal de verdade e essência.