Angústia não tem face. Existem almas tristes, que sorriem. Trate as pessoas bem, a dor que carregam nem sempre transparece no rosto.
O sorriso, nem sempre vem da alma. É um mecanismo de defesa. Um ”cala boca” exageradamente forjado para afastar a culpa de não se encaixar na sociedade.
A pressão para ter um bom emprego, uma boa casa, um bom relacionamento, um corpo atraente, uma vida interessante. Pressão que grita alto dentro do nosso cérebro. Pressão que cresceu em um nível alarmante com o advir das redes sociais, nossas aliadas e também, constantes inimigas.
Inicialmente criada como forma de diminuir distância física e promover encontros, as redes sociais foram, pouco a pouco, se tornando um estranho objeto de desejo.
O portfólio virtual posto em um patamar elevado, corrobora para o desgaste emocional e a competitividade exacerbada da frustração de não se enquadrar nas vidas online saídas de comercial de margarina causam angústia e medo.
De acordo com a pesquisa recente de um dos autores que associa “desistência da vida” e internet, do Dr.Cheng, publicada no prestigiado Journal of Clinical Psychiatry, revela que após sucessivos testes e monitoramento de comportamento, indivíduos que passavam bastante tempo nas redes, adolescentes e adultos, mesmo sem estarem em quadro depressivo, apresentaram uma dependência maior, que, em curto a médio prazo, poderiam vir a aumentar as chances de cometerem um ato contra a própria vida.
O vício em internet, embora não esteja ainda incluído no DSM-5 (Manual Diagnóstico dos Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria), sugere, a partir destes estudos, que, aliado ao vício em jogos online corroboram para o aumento significativo de comportamentos destrutivos, podendo ou não estar intrinsecamente ligado a depressão.
Você abre o Facebook, o Instagram, o Twitter e lá estão vários “portfólios” interessantes. Parece que a vida de todo mundo é saída de um conto de Lewis Carrol, Charles Perrault ou Monteiro Lobato.
Todos com finais felizes.
Sempre há algo instigante na vida social da vitrine online que não encontramos na nossa realidade diária.
Um olhar mais sensível, quase clínico, consegue captar o que é fake, o que é transitório, o que é proposital e o que é real.
Dando uma geral no feed de notícias, é possível se detectar pedidos de socorro subliminares que, para olhos superficiais, passam quase imperceptíveis, mas não para um olhar sagaz.
A profundidade para enxergar a alma do outro se faz necessária em tempos de vazios que transbordam.
A angústia e o pedido de ajuda
O grito por ajuda pode estar nas postagens de várias selfies.
Na troca quase semanal de foto de perfil, naquelas frases melancólicas na calada da madrugada, nas músicas que a pessoa posta, nas páginas que a pessoa segue, no gênero de filme que a pessoa mais se identifica.
Existem várias “portas” mas é difícil conseguir penetrar na aparente carcaça que o indivíduo ergueu sobre si mesmo.
A couraça protetora superficial que é impenetrada por uma mente distraída, que no barulho externo diário, não intercepta os sinais.
Há um tempo atrás, vagando pelo webmundo, à noite, me chamou a atenção um comentário de um bela moça num post que era extremamente hilário e que falava sobre viagens e falta de dinheiro.
Ela assim escreveu: “Hahaha. Vocês rindo e eu aqui pensando como vou acordar amanhã após ler isto. Muito engraçado”.
Um comentário leve, irônico, se visto de relance, concordam? Contudo, a intuição falou mais alto e fui checar o perfil da moça.
Jovem, 29 anos, bonita, advogada, boa família. Fotos em lugares exóticos, como Bali, o que testifica que o motivo do post sarcástico dela não era escassez financeira, já que o destino é um dos mais caros do Mundo.
Fui analisar as curtidas da moça, páginas que seguia e, num golpe de sorte, vi um comentário dela num post de uma página sobre a poeta americana Sylvia Plath, que dizia: “Admiro sua coragem. Quem sabe eu chegue lá, um dia”.
Sobre Sylvia Plath; tirou a sua vida premeditadamente, aos 30 anos, e fazia, tal qual esta moça da internet, declarações melancólicas constantes disfarçadas por ironia, sarcasmo e humor mórbido. Possuía um quadro depressivo durante boa parte de sua existência e seus poemas eram quase sempre sobre a morte, isolamento, amores perdidos, suicídio. Ela escreveu, além de poemas, um romance (que é considerado auto-biográfico) chamado The Bell Jar.: “Morrer é uma arte, como todo o resto. Eu o faço excepcionalmente bem.”
Curiosamente, sua amiga, a também escritora e modelo, Anne Sexton, que começou a escrever sobre sugestão de sua psiquiatra como catarse, já que havia tentado tirar a vida por diversas vezes, tendo inclusive ganho o Prêmio Pullitzer,de poesia,em 1967,ao saber da morte da amiga, ficou extremamente revoltada por esta “roubar a sua morte”,segundo confidenciou ao seu psiquiatra. Escreveu, nestes versos, dedicados a Sylvia:
“Ladra-como se rastejou
rastejou sozinha
para a morte que desejei tanto e por tanto tempo”
A estas duas talentosas escritoras depressivas, junta-se a célebre escritora inglesa Virginia Woolf. O que torna as três escritoras com uma linha de vida parecida, é a aparente decepção com seu estado social e a dificuldade em aceitar a si mesmas.
Buscaram, na máquina de escrever, uma fuga da realidade que não tinham forças para alterar. Enquanto era mais fácil escrever sobre sua história, e sobre a vida como enxergavam, reescrever um novo capítulo de suas vidas era algo inatingível.
Como se o pincel de tinta para colorir o arco-íris em suas vidas fosse concedido a todas as pessoas do Mundo, menos a elas. Não se consideravam apenas não capazes, mas não merecedoras.
Angústia: Um vazio que não tinha mais espaço para ser preenchido.
É preciso cautela e sensibilidade ao lidarmos com a alma humana.
A felicidade deve sim ser celebrada, mas precisamos ser solidários quando percebermos um sinal de descontentamento de alguém próximo de nós.
A velada competitividade que o mundo estabelece pode ser cruel (Não confundir com inveja).
Indivíduos depressivos geralmente não celebram a felicidade alheia porque vivem num mundo escuro e frio, presos dentro de si mesmos.
Não é fraqueza, porque eles, agarrados à cauda da Esperança, até tentam submergir, o que demanda um esforço físico dilacerante. Mas, tampouco conseguem chegar à superfície e pegam um breve fôlego, são tragados de novo para o subaquático mundo em que aprenderam a viver e se sentem eternos habitantes da penumbra que, no regresso, os envolve no colo aconchegante da tristeza, e os recebe como a um velho amigo que constantemente os visita.
A angústia e o vício pela tela
A luz noturna da tela do celular, do tablet, do notebook, reflete o fracasso interno por não ter forças para lutar pela aparente felicidade alcançada pelos demais usuários.
É um mundo solitário, sombrio, assustador. A culpa por não ter alcançado o patamar desejado causa uma angústia avassaladora.
É preciso que não se culpem.
Não se culpem por estarem aparentemente atrás dos outros nas suas conquistas pessoais e profissionais. O tempo, é algo relativo. Cada um tem um relógio interno que funciona de uma determinada maneira.
Nossos ponteiros internos não necessariamente precisam estar em sincronia com o externo.
Todos temos nossas características e elas são determinantes no nosso modo de ser, agir e pensar.
Nossa configuração interna já vem meio que programada, mas isto não quer dizer que você não possa aperfeiçoa-la. Não tenha medo dos riscos. A Vida não é sobre quem perde ou quem ganha, mas sim, sobre quem melhor resiste.
Não se cobre tanto. Se tiver vontade de chorar, chore.
Mas busque sofrer apenas o necessário, por um período, para renovação interna.
O Mundo pode bater forte às vezes. A angústia pode tentar te dominar. Mas lembre-se: Faça tudo ao seu modo e no SEU tempo. E jamais se compare!
A única certeza que temos é que um dia iremos morrer, mas por favor não antecipe o fim do jogo. O destino se estabelece quando se decide por continuar o jogo ou desistir dele.
Haja o que houver, não desligue o aparelho da tomada. Jogue até o fim. Não desista do jogo da sua vida. Vença a si mesmo. Sempre. Todos os dias! e se preciso for, desligue o celular!
“A vida vale a pena, e os caminhos mais difíceis nos fortalecem e nos tornam mais sábios! Se resolvermos aprender com eles, e principalmente, se buscarmos ajuda para percorrê-los, conseguiremos deixar fluir as emoções sem que elas consigam nos dominar por completo. Tudo na vida exige dedicação. Não há necessidade de esforço, apenas dedicação. Para desfrutar as maravilhas que a vida nos oferece, precisamos aprender a mudar os pensamentos que nos levam a uma vida murmurante, exercitar a gratidão pelas pequenas e simples coisas, e cultivar a fé que nos inclina a coragem para a ação transformadora”. Iara Fonseca
A angústia pode ser lavada com a fé e a esperança de que dias melhores virão! Porque quando confiamos nisso, eles sempre vêm!
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