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A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO: Não percamos as oportunidades de servir, aos que batem às nossas portas

Por Emídio Brasileiro

Não percamos as oportunidades de servir, aos que batem às nossas portas

“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino, e todos os dias se banqueteava esplendidamente. Havia também um mendigo chamado Lázaro, que jazia à sua porta, coberto de chagas. Desejava ele saciar-se das migalhas que caiam da mesa do rico, mas ninguém lhas dava. E até os cães vinham lamber-lhe as úlceras.

Aconteceu que morreu o mendigo e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado.

No inferno, estando em tormentos, levantou seus olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio. Então, clamando, disse: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe na água a ponta de seu dedo para me refrescar a língua, porque estou atormentado nesta chama’.

Abraão, porém, respondeu: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante a vida, do mesmo modo que Lázaro recebeu males; agora, porém, aqui ele está consolado e tu estás em tormentos. Além disso, há entre nós e vós um grande abismo, de tal forma que os que querem passar daqui para junto de vós não podem, nem os de lá passar para nós’.

Ele replicou: ‘Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, onde tenho cinco irmãos, a fim de lhes atestar estas coisas, para que não venham eles também a este lugar de tormento’.

Abraão, porém, respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam’. E ele insistiu: ‘Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los. Eles se arrependerão’.

Respondeu-lhe Abraão: ‘Se não ouvem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que se levante alguém dentre os mortos, não se convencerão’ ”. (Evangelho de Lucas, cap. 16, vv. 19 a 31).

Esta parábola de Jesus demonstra a realidade da vida espiritual e as condições dos espíritos depois de suas jornadas terrenas. Dois indivíduos reencarnaram com as provas da riqueza e da pobreza. Jesus não nomeia o rico, mas denomina Lázaro como sendo um mendigo coberto de chagas, que sofria com a indiferença humana, inclusive com a insensibilidade do homem rico.

Allan Kardec, em sua obra O Livro dos Espíritos (FEB), questiona aos espíritos superiores a respeito das provas da riqueza e da miséria. Ele pesquisa com a pergunta 814: “Por que Deus a uns concedeu as riquezas e o poder, e a outros, a miséria?” Os espíritos respondem ao mestre lionês: “Para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com frequência.”

Kardec mais uma vez indaga aos Espíritos por meio da pergunta 815 a respeito de qual das duas provas é mais terrível, a da desgraça ou a da riqueza. Ele obtém a resposta: “São-no tanto uma quanto outra. A miséria provoca as queixas contra a Providência, a riqueza incita a todos os excessos”.

Mais adiante os Espíritos ouvem a terceira indagação do Codificador do Espiritismo a respeito dessa temática com a pergunta 816: “Estando o rico sujeito a maiores tentações, também não dispõe, por outro lado, de mais meios de fazer o bem?

Os Espíritos respondem: “Mas, é justamente o que nem sempre faz. Torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável. Com a riqueza, suas necessidades aumentam e ele nunca julga possuir o bastante para si unicamente”. Foi o que ocorreu com o homem rico desta parábola de Jesus.

Em seguida, Kardec comenta essas respostas dos Espíritos:

“A alta posição do homem neste mundo e o ter autoridade sobre os seus semelhantes são provas tão grandes e tão escorregadias como a desgraça, porque, quanto mais rico e poderoso é ele, tanto mais obrigações tem que cumprir e tanto mais abundantes são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal.

Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que dá aos seus bens e ao seu poder. A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. Por isso foi que Jesus disse: “Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus”.”

O homem rico “que se vestia de púrpura e linho fino, e todos os dias se banqueteava esplendidamente” e o mendigo, que tinha as suas feridas lambidas por cães e nem mesmo recebia as migalhas da mesa do rico, partiram para a Pátria Espiritual.

O mendigo desencarnou primeiro e fora “levado pelos anjos ao seio de Abraão”, ou seja, fora conduzido às esferas dos Espíritos superiores. Algum tempo depois, o rico retornou também ao mundo dos Espíritos e, devido a sua condição consciencial, foi para regiões onde vivia grande quantidade de Espíritos atormentados que sofriam toda sorte de dores morais e físicas, ou perispiríticas.

Essa narrativa do Mestre não deixa dúvidas que colhemos no mundo espiritual os frutos das boas e das más ações. Esta parábola realça os ensinos de Allan Kardec quanto à existência do “mundo invisível ou espírita, isto é, dos Espíritos” (…) que é “o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo” enquanto “o mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso se alterasse a essência do mundo espírita” (O Livro dos Espíritos, FEB).

Diante do sofrimento, o rico, por meio da oração, viu Lázaro e um Espírito Superior, simbolizado por Abraão, o patriarca dos hebreus, e solicitou alívio para as suas dores.

O ex-rico rogou ao Espírito Superior que autorizasse Lázaro para ser o mensageiro do alívio esperado. No entanto, Abraão esclareceu que ainda não era possível essa visita porquanto ele não dispunha das energias necessárias para receber tal auxílio.

Afinal, Lázaro se encontrava numa condição espiritual muito superior e por isso havia grande abismo evolutivo entre o rico e a comunidade espiritual a qual Lázaro pertencia. Havia uma distância vibratória de grandes proporções.

Diante da negativa do Mentor Espiritual, o ex-rico voltou a suplicar para que enviasse Lázaro até a sua casa paterna com o propósito de esclarecer os seus cinco irmãos e demais familiares a respeito da necessidade das práticas do amor, da caridade e da justiça para evitar que eles sofressem do mesmo modo que ele.

No entanto, Abraão respondeu que não havia necessidade de enviar Lázaro porquanto se os familiares do ex-rico não ouviam os ensinamentos de Moisés e dos Profetas de nada adiantaria enviar alguém dentre os mortos para convencê-los. Com esse diálogo, verifica-se que o homem rico estava arrependido de seus atos egoístas porquanto se preocupava com os seus familiares.

Como é dolorosa a desilusão dos que desencarnam com pesados fardos de débitos morais… Muitos Espíritos não sabem escolher o tipo de prova que passarão mesmo sendo alertados do insucesso por seus mentores espirituais.

A Espiritualidade permite que isso ocorra até que o Espírito encarnante saiba ouvir as orientações dos bons espíritos e passem a escolher provas que possam suportar.

Lázaro foi vitorioso em sua jornada terrestre, venceu as influências da matéria e se aproximou dos bons Espíritos enquanto o homem rico se deixou dominar pelas más paixões e pôs as suas alegrias nas ilusões do poder efêmero e da riqueza transitória.

Lázaro foi o nome que Jesus nominou ao mendigo virtuoso, nome que lembra o do seu amigo Lázaro de Betânia, irmão de Marta e de Maria, o qual ele curou da morte aparente.

Abraão foi o nome do mentor espiritual, o qual representou um líder de uma comunidade de espíritos superiores, homenageando Abraão, o grande líder e patriarca dos hebreus, símbolo da fé e da obediência ao Pai.

O homem rico, no entanto, não teve o seu nome revelado. Provavelmente, os nossos nomes usados em existências improdutivas são passageiros e sem significados ante uma jornada infrutífera ou estacionária.

Todos somos ricos de incontáveis bênçãos e, ao mesmo tempo, mendigos de inúmeros talentos. Identifiquemos as bênçãos e os talentos que possuímos para dividi-los entre os que não os possuem, transformando-os em oportunidades generosas aos que mendigam junto às nossas portas a espera das migalhas da atenção e do respeito a dignidade espiritual.

Não percamos as oportunidades de servir, especialmente diante dos que batem às nossas portas. Não raras vezes, necessitamos desses “mendigos espirituais” para molharem as nossas línguas energéticas quando estamos nas sombras da tristeza e do desassossego íntimo.

Avancemos, sem medo, pelas sendas do amor e da caridade e não nos faltarão bênçãos, talentos e riquezas que “nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam” (Mateus, 6:20). Desse modo, haveremos de morar nas regiões venturosas do mundo espiritual em companhia das comunidades angélicas onde vivem Lázaro e Abraão, sob as bênçãos de Deus, conforme a vontade de Jesus.

Seu Amigo Guru

Viva simples, sonhe grande, seja grato, dê amor, ria muito!

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