A vida de uma mulher pode ser seguramente dividida em duas fases: antes e depois dos filhos.
Antes dos filhos, o mundo nos chama. Sentimos a leveza das folhas de outono no ar, a calidez do Sol em nossos ombros em um final de tarde de verão, o sabor de um beijo apaixonado, a excitação palpável no ar em uma noite de sexta-feira.
Tudo é visto e sentido com o véu da onipotência, da certeza de que tudo vai dar certo. Muitas cenas tristes na televisão nos atingem, mas o sentimento é fugaz: nosso olhar é treinado para focar o que é bom aos olhos, aos ouvidos e ao coração. Há fluidez de movimentos, de risadas, de vertigens apaixonadas.
Mas um belo dia você se descobre mãe. E não é mais o mundo que te chama. É a vida, em um formato ainda minúsculo, “mas gigante pela própria natureza”, que te exige. Aquela leveza de uma vida passada se transforma na concretude de noites insones, no pesadelo da imensa preocupação diante de uma febre que não cede, na certeza de que você daria mil vezes sua vida para receber um sorriso verdadeiramente feliz daquele que é tão seu, como nenhum ser humano o foi em toda a sua existência.
Ah o olhar… o seu olhar nunca mais será o mesmo para as coisas mundanas. Uma criança pedinte no semáforo, um bebezinho berrando faminto no colo da mãe, enfim, qualquer tom de sofrimento de uma criança te inflige uma dor tenaz. Tudo com o que seus olhos e ouvidos se deparam, você transfere para seu o filho. Você imagina que poderia ser seu filho no lugar daquele garoto que sofreu um acidente, daquela criança faminta…
Porém, tudo tem dois lados, e ser mãe não é diferente: seu olhar treinado também se enche de um precipitado regozijo quando imagina seu filho recebendo o diploma da faculdade, conseguindo um sonhado emprego, sendo simplesmente…FELIZ!
E depois de tantas histórias, tantas risadas e choros, você sabe que somente sentirá novamente a leveza das folhas de outono e a calidez do Sol em seus ombros em uma tarde de verão se o seu filho estiver conectado a você, seja física ou emocionalmente.
E você percebe que embora a vida antes dos filhos fosse mais fluida e talvez palpitante, é no refúgio dos braços deles que você quer estar. Sempre.