A China registrou aumento massivo de divórcios pós-quarentena e no restante do mundo não será diferente. As relações entre duas pessoas são caminhos em constante mudança. Nos tempos que vivemos, a conjuntura está a obrigar muitos casais a conviverem, a partilharem espaço de uma forma como já não faziam há muito tempo.
A sociedade moderna levou-nos a ter dois casamentos, um com o parceiro e outro com o trabalho. Por norma, este último, recebe de quase todos mais empenho e atenção.
O nosso quotidiano atribulado torna-nos, muitas vezes, seres preguiçosos em relação a nós mesmos e a quem partilhamos a vida.
Há uma preguiça instalada nas relações.
As pessoas não param para avaliar, para refletir o porquê de estarem com aquela pessoa, se ela ainda supre nossa fome de amor, ou simplesmente, cedemos ao comodismo.
Contudo, não podemos nos entregar à conjuntura, não podemos confundir sentimento com estado emocional.
O fato de estarmos fechados aumenta o nosso nível de ansiedade, e ainda de se avistarem dificuldades a nível econômico poderá acionar em nós, emoções não desejadas.
Essas devem ser filtradas, e ponderadas com calma.
Este tipo de avaliação deve ser muito cautelosa. Temos que medir, até compreender se realmente quem está ao nosso lado já não tem o mesmo impacto em nossa vida realmente.
Se o sentimento findou, mas não tínhamos nos dado conta.
As pessoas, muitas vezes, ficam juntas por conforto e segurança mas, em tempos de crise, podem acontecer rupturas definitivas.
Por vezes o medo da solidão se sobressai.
Por outro lado, há casais onde acontece o oposto.
Mesmo tendo sentido uma desconexão por por conta da rotina, agora, neste momento de paragem, a relação se tornou mais forte e estável.
Existem casais que na adversidade se fortalecem.
Que não cedem aos impulsos e usam o momento para pensar em dupla.
Seguem a velha máxima de que uma cabeça pensa melhor que duas.
Usam a quarentena para delinear estratégias, buscando um ponto de equilíbrio.
Juntos irão recuperar e fazer frente ao que estiver por vir.
O casamento pode se transformar em algo mais concreto, sair do abstrato.
Há quem viva um relacionamento abstrato pois está com a mente totalmente ocupada em seus afazeres. O concreto é o que define uma linha racional dentro de uma realidade vivida.
Estes momentos servem para ter a percepção real do que sentimos de fato.
Conseguiremos perceber se o relacionamento está acabado e seremos mais um número no aumento das estatísticas de divórcios pelo mundo a fora, ou nossa relação seguirá ainda mais forte?
Os momentos de paragem obrigam-nos a olhar para situações que protelávamos há mais tempo do que o desejável.
O mundo, ao meu ver, caminha para a solidão. Os divórcios acontecerão, inevitavelmente.
As famílias estão cada vez mais pequenas, menos filhos.
Há uma individualização instalada.
Estamos nós, enquanto humanos, preparados para seguir sozinhos?
Momentos críticos fazem-nos refletir sobre as nossas escolhas.
*texto de Fabiano de Abreu – Doutor e Mestre em Psicologia da Saúde pela Université Libre des Sciences de l’Homme de Paris; Doutor e Mestre em Ciências da Saúde na área de Psicologia e Neurociência pela Emil Brunner World University;Mestre em psicanálise pelo Instituto e Faculdade Gaio,Unesco; Pós-Graduação em Neuropsicologia pela Cognos de Portugal;Três Pós-Graduações em neurociência,cognitiva, infantil, aprendizagem pela Faveni; Especialização em propriedade elétrica dos Neurônios em Harvard;Especialista em Nutrição Clínica pela TrainingHouse de Portugal.Neurocientista, Neuropsicólogo,Psicólogo,Psicanalista, Jornalista e Filósofo integrante da SPN – Sociedade Portuguesa de Neurociências – 814, da SBNEC – Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento – 6028488 e da FENS – Federation of European Neuroscience Societies-PT30079.
E-mail: deabreu.fabiano@gmail.com
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