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Deixe ir. É melhor perder quem nunca fez questão de permanecer

Deixe ir. É melhor perder quem nunca fez questão de permanecer.

Às vezes, a gente tem tantas coisas boas guardadas no peito, tanto amor querendo ser doado, tanta história querendo ser vivida, tantas páginas querendo ser escritas… que a gente se confunde. E acaba entregando todo esse afeto a alguém que não tem a intenção de recebê-lo. Ou a alguém que não faz questão de retribuí-lo.

Malu viajou para a praia e, embora distante do ficante, se lembrou dele todos os dias: enviou mensagens, músicas e fotos; registrou o nome dele escrito na areia; trouxe conchinhas que recolheu numa tarde e, ao retornar, ainda o presenteou com uma caneca – sem valor material – mas que traduzia o afeto que ela sentia. Na semana seguinte, Júlio, o ficante de Malu, viajou para o interior.

Não teve tempo de escrever mensagens nem mandar fotos, embora tenha postado nas redes sociais a vitória do seu time. Retornou numa tarde e não avisou – ela soube pelos stories que ele postou – e, dias depois apareceu chamando-a para sair e ela aceitou; porém, em momento algum a agradou, ou cogitou valoriza-la da mesma forma que ela o valorizou.

Murilo e Amanda faziam faculdade juntos. Murilo ficou doente e pegou atestado. Amanda, que vinha saindo com ele há alguns meses, soube que era covid e se preocupou. Mandou mensagens, quis saber como ele estava, encomendou uma cesta de café da manhã e tentou ajuda-lo a enfrentar esse momento difícil.

No ano seguinte, entre idas e vindas, Amanda adoeceu. Foi afastada das aulas por causa de uma enfermidade. Murilo soube, mas em momento algum mostrou-se solidário. Nenhuma mensagem, nenhuma preocupação. Quando ela retornou, quis saber como a menina estava. Porém, algo dentro dela havia se quebrado, e não havia mais como remendar.

Roberto e Carol namoravam à distância. Cada um morava em uma cidade, mas estavam sempre juntos. Numa ocasião, a tia de Roberto sofreu um acidente e veio a falecer. Carol soube, e imediatamente pegou um ônibus e foi ficar ao lado de Roberto. No ano seguinte, ao retornar da praia com as amigas, Carol sofreu um acidente.

O carro capotou na estrada, e ela quebrou o braço. As amigas também se machucaram bastante, mas, apesar do susto e do trauma, ela estava bem. Roberto a acalmou pelo telefone, foi gentil e solidário, mas em momento algum cogitou pegar o carro e vir até a cidade de Carol consolá-la ou ampará-la.

Às vezes a gente tem tantas coisas boas guardadas no peito, tanto amor querendo ser doado, tanta história querendo ser vivida, tantas páginas querendo ser escritas… que a gente se confunde. E acaba entregando todo esse afeto a alguém que não tem a intenção de recebê-lo.

Ou a alguém que não faz questão de retribuí-lo. E então amamos por dois, nos dedicamos por dois, e nos enganamos e nos machucamos profundamente pela nossa própria incapacidade de discernir onde devemos permanecer.

Há uma frase de Rupi Kaur que diz: “andei até aqui para te dar todas essas coisas, mas você não tá nem olhando”. Será que você não está se esforçando, fazendo malabarismos, se dedicando e perdendo seu tempo com alguém que não valoriza nada do que você faz?

Será que não está na hora de começar a dirigir esse afeto para si mesma(o) e parar de se contentar com migalhas?

Você pode ter muito amor dentro de si querendo ser investido em alguém ou numa relação. Mas você não pode pegar essa riqueza, colocar numa bandeja de prata e entregar para alguém que não tem a mínima intenção de cuidar do seu investimento.

Para alguém que vai simplesmente picar suas cartas de amor, ignorar suas mensagens, te tratar como tanto faz. Assim como você não colocaria todo seu suado dinheiro numa aplicação furada ou sem credibilidade, você não pode colocar seu coração numa bandeja e oferecer a alguém que irá usá-lo como bola de futebol e chutá-lo para o gol.

Não adianta você ser poesia, se ele não sabe ler. Não adianta você ser música, se ele não consegue ouvir. Não adianta você dançar na frente dele, se ele não enxerga. Não adianta sua língua falar de amor, se ele não deseja o amor que vem de você.

Se cuide, se resguarde, se proteja. Não se rasgue por alguém que não estará lá te ajudando a se costurar. E aprenda, de uma vez por todas, que o afeto que você tanto quer entregar a alguém, esse afeto é seu.

Ele faz parte do que você é, e não está no outro, está em você. Você quer ver seu amor refletido no outro, e quando essa pessoa não o aceita, ou o recusa, você se despedaça.

Mas entenda: você é seu próprio abrigo. E um dia alguém vai querer ficar. E compartilhar a mesma casa que você.

Você é seu próprio lar. E um dia alguém vai amar esse ninho tanto quanto você.

E você não terá que insistir para esse alguém ficar. Ele ficará porque quer, e valorizará cada pedaço dessa casa que nunca foi um lugar (esse lar é você).

Deixe ir a falta de autoestima, a necessidade de ser aceita, o desejo de ser valorizada pelos outros. Dê a você o amor e o respeito que você precisa. Atenda as suas necessidades diariamente e valorize os seus esforços. Você é a única pessoa que pode te amar como você realmente merece! Iara Fonseca.

*DA REDAÇÃO SAG. Foto de Noah Silliman no Unsplash.

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Fabíola Simões

Nasceu no sul de Minas, onde cresceu e aprendeu a se conhecer através da escrita. Formada em Odontologia, atualmente vive em Campinas com o marido e o filho. Dentista, mãe e também blogueira, divide seu tempo entre trabalhar num Centro de Saúde, andar de skate com Bernardo, tomar vinho com Luiz, bater papo com sua mãe e, entre um café e outro, escrever no blog. Em 2015 publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos os Afetos" e se prepara para novos desafios. O que vem por aí? Descubra favoritando o blog e seguindo nas outras redes sociais.

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