EU NUNCA FUI MUITO BOA EM PEDIR AJUDA. Sempre me senti muito mais confortável na posição de quem dá, de quem cuida; de quem salva. Não por acaso escolhi ser psicóloga, nada mais óbvio do que ganhar dinheiro para fazer o que eu já fazia há anos sem cobrar um centavo.
Na infância, eu era a boazinha que ia em socorro de todos os amigos. O que na época me parecia ser o “correto” a se fazer quando alguém era zoado na escola, hoje percebo que sempre foi apenas barganha: eu queria comprar o amor das pessoas.
Queria me sentir especial, importante.
Hoje percebo como me violentei, inúmeras vezes, em nome de alcançar este pedestal no coração de quem eu amava.
Anos mais tarde, a dinâmica da infância com os amigos era reproduzida em meus relacionamentos amorosos e disso vieram as crises de ansiedade que me levaram ao consultório da psicóloga, que me presenteou com o diagnóstico:
codependência emocional.
Ou: o vício em ser sempre a salvadora da pátria, aquela que parte em resgate das pessoas pobres-coitadas que são incapazes de cuidarem de si mesmas. Na minha opinião, evidentemente.
No momento em que escrevo esse texto, meu segundo filho, Dante, tem 6 dias de vida. Nasceu em um parto que me ensinou mais sobre mim mesma, sobre minhas sombras e meus medos do que anos e anos dos mais diversos tipos de terapia que eu já fiz.
E uma das coisas mais importantes que este parto me trouxe como insight (e que estes 6 primeiros dias de uma nova maternidade estão me trazendo), é sobre a importância de se aprender a reconhecer quando precisamos verdadeiramente de ajuda.
Não vou entrar em detalhes sobre o parto porque pretendo gravar um Podcast muito em breve com o relato do parto de Dante (que se relaciona com o parto de Gael sob inúmeros pontos de vista), mas tenho chegado a algumas conclusões sobre o tema “pedir ajuda” que me senti inspirada a compartilhar aqui no BLOG.
Vamos lá:
1. Sobre pedir ajuda e demonstrar fragilidade:
Você já parou para pensar no quanto sua recusa em pedir ajuda pode estar relacionada ao desejo de receber a admiração e reconhecimento das pessoas pelo fato de ser forte e dar conta das coisas sozinha?
Todos nós somos criados em uma sociedade que celebra a força e a fortaleza em detrimento da dor e da vulnerabilidade. É a sociedade rede-social, na qual importa mais aquilo que você mostra do que aquilo que sente de verdade; o resultado disso é que passamos mais tempo nos preocupando com o que os outros vão pensar de nós do que com a forma como verdadeiramente nos sentimos.
Eu admito que, em diversos momentos da minha vida, me fingi de forte e me esforcei para não demonstrar o quanto eu poderia me beneficiar da ajuda do outro porque sentia que se mostrasse o quanto eu me sentia frágil e necessitada ia “decepcionar” as pessoas que eu amava. Fiz isso inúmeras vezes – e você?
2. Sobre a arrogância que é não pedir ajuda quando se precisa:
Me lembro que, quando estava grávida de Gael e parti para um parto humanizado, recebi o orçamento da equipe médica e um dos profissionais envolvidos era o anestesista.
E me lembro de não ter dado a menor importância para quanto seus honorários custariam, porque eu tinha certeza absoluta que não precisaria dele.
Hoje, passados quase 4 anos desta experiência, brinco que o anestesista foi a verdadeira estrela do meu parto – eu e Gael ficamos em segundo plano, porque de repente o anestesista era a única coisa na qual eu era capaz de pensar.
Quando cheguei ao hospital, com 9cm de dilatação, todo e qualquer homem que cruzava o meu caminho eu perguntava, “é você o anestesista?” – para o enfermeiro, para o segurança, para o faxineiro.
Lidar com a minha necessidade de anestesia foi uma das coisas mais dolorosas e que até hoje busco curar dentro de mim – e, no parto de Dante, sinto que mais uma pecinha dessa cura chegou.
Lá estava eu, com 7cm de dilatação, de quatro dentro do carro indo para o hospital e pedindo conscientemente para que chamassem o anestesista. Para mim, naquele momento, pedir por analgesia estava sendo o maior ato de amor próprio que eu poderia ter naquele momento.
Pedir ajuda na hora certa é prova de que você se ama e se respeita. Estar precisando de ajuda e não pedir é a maior arrogância que existe – é só seu Ego querendo parecer ser mais foda do que é.
3. Pedir ajuda é se reconectar com o Todo:
Faz 6 dias que Dante chegou ao mundo e faz 6 dias que eu peço por ajuda – e estou me deslumbrando como o simples ato de abrir a boca e nomear uma necessidade que existe pode ser uma ponte entre você e o fluxo da vida.
Porque a gente pode não enxergar as coisas desta forma, mas a vida é uma rede de pessoas, coisas e acontecimentos da qual nós fazemos parte.
O ser humano só se desenvolveu e evoluiu sobre a face da Terra porque se organizou em pequenos grupos. E viver em grupo significa viver em cooperação – o que eu não faço, o outro faz; do que eu não dou conta, o outro dá.
Abrir mão da participação do outro na nossa vida é, além de arrogância, a garantia de uma vida de desconexão com o Todo.
Existe uma frase que diz que “é necessária uma vila para se criar uma criança”- porque se não existisse a cooperação dos grupos, a vida se tornaria simplesmente insustentável. Simplesmente: não seria possível.
Por aqui, eu respiro fundo e mergulho no puerpério – este momento mágico e por vezes sofrido que sucede o nascimento de uma criança – certa de que a vida é abundante e que me trará mais daquilo que eu preciso aprender sobre mim.
E, enquanto isso, me entrego à sabedoria da vida e das mãos estendidas que ela me trouxer.
Foto de capa: Rawpixel
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