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Hoje, depois de ter me machucado e me sabotado, sei que não mereço essa angustia

Hoje, após tantos tombos, depois de ter me machucado e me sabotado, sei que não mereço essa angustia

Lembro-me de, ainda bem criança, ficar planejando meu futuro. Professor eu fatalmente seria, porque, no quintal de meus pais, havia uma lousa enorme, onde eu ficava dando aula para alunos imaginários. Acho que esse negócio de lecionar já nasce com a gente. E, como eu sempre gostei de ler e de imaginar histórias e mundos fantásticos, a literatura foi o meu destino.

Fora isso, eu ficava imaginando como eu seria, qual altura eu alcançaria, se eu iria ser magro (estive acima do peso até meus 15 anos de idade), se eu teria família, filhos.

Como sempre carreguei um pouco de melancolia, eu também ficava pensando na morte de quem eu amo. Eu me desesperava ao tentar imaginar a minha vida sem a minha mãe. Acho que já nasci um tanto quanto ansioso.

Com o tempo, foi ocorrendo o sentido inverso e passei a reviver o passado, refletindo sobre o que eu fizera, pensara, as coisas que eu falara.

Eu já tinha vivido um tantinho e olhar para o passado ficou mais fácil. E, lógico, inevitavelmente, eu criava arrependimentos e remorsos acerca de atitudes que eu achava que não deveria ter tomado, sobre palavras que eu não deveria ter dito, sobre pessoas que eu não deveria ter magoado. E isso fazia mal, mas eu era muito inexperiente ainda para entender como aquilo me machucava.

Hoje, após tantos tombos, depois de ter me machucado e me sabotado, por conta do tanto que a gente acumula de lixo emocional sem utilidade, eu já superei muita coisa.

Tento não ficar olhando o passado com olhos acusadores e pouso um olhar mais compassivo sobre o meu eu de ontem.

Tento não ficar imaginando o que será do amanhã, porque ele é uma incógnita e, se projeto algo, tendo a ser negativo.

Eu não mereço essa angústia, eu mereço perdoar e ser perdoado.

Pare de tentar adivinhar o amanhã, você não é vidente, nem tem poder algum sobre o que ainda não aconteceu.

Pare de ficar se culpando tanto quando olhar para trás, aquele era seu eu menos experiente, menos vivido, mesmo forte.

Você agiu conforme você podia. O amanhã ninguém controla.

Remoer o passado pode causar depressão. Remoer o futuro traz ansiedade. Viva hoje. Leveza.

*DA REDAÇÃO SAG. Foto por nome_gravidade no Unsplash

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Prof. Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.

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