“Agora me ficava bem claro que, mais uma vez, Deus pesava sua mão sobre seu povo e que o destino desse povo era também o meu.”
(Edith Stein, 1933)
“Vida de uma família judia e outros escritos autobiográficos”, livro recém-publicado pela Paulus Editora, é a edição inaugural da coleção “Obras de Edith Stein”, que oferece uma extensa bibliografia dos escritos de uma das personalidades mais fascinantes do século XX. O volume apresenta, de maneira minuciosa, os episódios da vida de Edith Stein, especialmente o percurso entre seu nascimento em berço judaico até o reconhecimento póstumo da importância de seus pensamentos e virtudes heroicas.
O livro foi traduzido do original, comentado e apresentado por Aparecida Jacinta Turolo Garcia e Angela Alves Bello. A edição brasileira do texto conta, ainda, com uma nota sobre seu sentido biográfico, redigida por Juvenal Savian Filho.
O primeiro volume da edição crítica alemã das “Obras completas de Edith Stein” (Edith Stein Gesamtausgabe – ESGA) foi publicado em 2002 pela Editora Herder, de Friburgo em Brisgóvia, na Alemanha.
Quem foi Edith Stein
Em geral, Edith Stein é uma personalidade frequentemente associada à uma mulher judia que se converteu ao cristianismo, tornou-se monja carmelita, foi executada em Auschwitz-Birkenau e canonizada como Santa Teresa Benedita da Cruz por São João Paulo II. Para os organizadores deste livro, muitos acontecimentos e características de sua vida ainda são desconhecidos por diversos leitores – daí a ideia de se publicar uma versão traduzida para a cultura brasileira.
A vida em dez etapas
Nessa perspectiva, a obra se divide em dez partes. A primeira é composta, parcialmente, de memórias que sua mãe lhe transmitiu. Entre a segunda parte e a última, as autoras compilaram lembranças reconstituídas por Edith Stein acerca de acontecimentos vividos por ela. A redação dos textos que compõem o livro teve início em 1933, ano em que os nazistas chegaram ao poder. Edith Stein conferiu o título Vida de uma família judia a um conjunto de dez textos menores, atribuindo-o apenas aos dois primeiros; os demais surgiram por inspiração de seus próprios relatos.
De modo geral, os leitores encontrarão na abertura de cada texto informações históricas capazes de elucidar a leitura. Para Juvenal Savian Filho, doutor em filosofia e professor da graduação e pós-graduação em Filosofia da Unifesp, a narrativa do livro contém mais do que um simples registro de acontecimentos familiares e pessoais. “Eles apresentam quadros nos quais se observa a ação de Deus no momento em que ela escrevia a obra. Stein percebia em sua vida e na vida de sua família a presença da Providência Divina”.
Por fim, para Edith Stein, o motivo imediato de sua escrita, para além de um simples registro, foi o desejo de retratar a vida de uma típica família judia, semelhante à imensa maioria das famílias alemãs, desmentindo a caricatura que os nazistas impunham aos judeus. Mais do que um desejo, a narrativa era tratada por Edith como um dever, para ajudar a acabar com o ódio racial.