Emoções

MÃE SOLO, EU CONHEÇO AS SUAS ANGÚSTIAS

MÃE SOLO, EU CONHEÇO AS SUAS ANGÚSTIAS

Mãe solo, eu conheço os sentimentos que povoam o seu coração. Eu não escrevo sobre uma teoria, eu falo com conhecimento de causa. Para quem não sabe, eu criei um filho, sozinha. Hoje, ele tem 23 anos. Foi o maior desafio da minha vida.

Eu conheço as dores de cada uma de vocês, o que muda é um detalhe ou outro. É que existem as mães solos que têm rede de apoio, e as mães que não tem absolutamente ninguém para contar.

Em ambos os casos, há muita angústia envolvida, mas no segundo caso, esse sentimento é potencializado.

A mãe sem rede de apoio é submetida a uma sobrecarga física e emocional extrema. Ela não tem sono de qualidade, ela não tem descanso nunca. Quando a criança dorme, ela aproveita para cuidar de outros afazeres.

Eu fui essa mãe sem rede de apoio, eu só tinha a babá para dar suporte, mas a minha condição era favorável porque eu já era servidora pública quando engravidei, realidade diferente de muitas mães que são do regime de trabalho privado, e as mãe que não trabalham.

De qualquer forma, eu conheço as dores que afligem o universo das mães solitárias. Vou traduzir um pouco dessa miscelânia de sentimentos.

Sentimos medo de não dar conta da missão de criar esse filho que mudou a nossa vida por completo. Por mais que tenhamos consciência de que o futuro não nos pertence, a gente tem medo de pensar nesse futuro.

É que muitas vezes, temos a sensação de que não estamos dando conta nem de nós mesmas, mas temos ali uma vidinha indefesa sob a nossa responsabilidade.

É medo por todos os lados. Medo de nossas feridas emocionais ferirem a nossa cria; medo de o abandono/ausência paterna causar uma sequela irreversível naquele ser que, se pudéssemos, sentiríamos todas as dores no lugar dele. Medo de não ser uma mãe boa o suficiente.

Medo de, no futuro, sermos responsabilizadas pela ausência do pai. Medo de essa criança se sentir inferior às outras por não ter um pai que a busque na escola; que não a leve ao parquinho.

Sentimos também muita dor. A dor do julgamento. A dor de lidar com perguntas inconvenientes. A dor de ver um filho crescendo sem um pai que ele merece ter. Dor de ver esse pai dando amor a outros filhos ou enteados, enquanto o seu está esquecido. Dor de ter que dar umas broncas na criança, ou castigo, e saber que não vai ter ninguém para intermediar a situação.

Não vai ter ninguém para dizer: “a mamãe te colocou de castigo porque o que você fez não é certo, mas ela te ama”. É você que vai ter que se virar, se desdobrar para ensinar o que é certo e o que é errado. Medo de não ter autoridade suficiente quando o filho entrar na adolescência.

Medo de o filho se envolver com o mundo das ilicitudes. Ok, eu sei que todo pai e mãe sente esse receio, mas para as mães solo, esse medo é elevado à décima potência.

A mãe solo quase não vive o presente, porque está sempre consumida pela ansiedade de as coisas não darem certo. São tantas preocupações que não sobra espaço para relaxar.

Nessa data, eu só quero dizer que vocês merecem o mundo. Vai dar tudo certo. Vai valer a pena tudo o que estão passando. Confiem. Deem o seu melhor e solte.

Não temos controle de nada. Deus abençoe cada uma de vocês. Deus abençoe os seus filhos. Deus abençoe a sua vida. Deus enxugue as lágrimas que caem na madrugada, ou embaixo do chuveiro. Vai ficar tudo bem.

Eu dei conta de criar o meu filho, ele é um grande homem. Eu não sou mais capaz do que ninguém. Vocês conseguem também.

*DA REDAÇÃO SAG. Foto de huanshi na Unsplash

Ivonete Rosa

Sou uma mulher apaixonada por tudo o que seja relacionado ao universo da literatura, poesia e psicologia. Escrevo por qualquer motivo: amor, tristeza, entusiasmo, tédio etc. A escrita é minha porta voz mais fiel.

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