Emoções

Meu amor não tem pudor. Amo em total descaramento. Meu coração é livre.

Eu tenho o coração tomado de amor. Vou com tudo, caminho na brasa, mergulho na lava, me jogo no fogo. Da vida, quero nada senão viver assim. Em chamas. É daí que vem o resto.

Comigo, pé atrás não funciona. O amor chega e entra com os dois pés e o que mais houver em volta. Invade a casa com dez trilhões de células e mil lembranças divididas feito pão e vinho.

Meu amor é um susto, um abalo, um assombro, um sobressalto. É o inesperado, o carro que quebra na padaria, a água que falta, o gás que acaba.

O descuido do motorista que sai da estrada no instante mesmo em que a sorte diz poderosa: “hoje ninguém se machuca aqui!”.

E o carro segue viagem. “Ah! Mas isso não é amor, é só paixão”, dirá o ser perfeito em sua fúria por rotular a vida e quem nela esteja.

Eu respondo: que seja! A paixão é minha e eu dou-lhe o nome que achar que devo. Inclusive amor.

Como as mães que engravidam e já sonham seus embriões correndo pela casa, e lhes bordam roupinhas e lhes imaginam caminhos e lhes tecem planos, eu sou afeito a desejar que minha paixão inflamada tenha um destino de amor tranquilo e forte, seguro e bonito.

Mas que ainda assim, quando se tornar robusto, maduro, corajoso, conserve em si o frio na barriga, a saudade, o riso fácil, o jeito simples e as declarações de ternura e apreço.

Aqui no lugar onde vivo, no abrigo de minha sorte de homem comum, penso que morrer e não ter amor são dois nomes de um mesmo monstro. A cada um de nós, o amor chega de um jeito. Quem fecha as portas para ele abre mão de viver.

E eu quero mais é a vida! Sou dessa gente que ama até o fundo, ama com amplitude e inteireza. Eu amo sem medo de altura! Choro no meio de uma lembrança, tatuo nossa marca no braço. Não por nada. É só vontade de que ela seja a criatura que eu vou amar para sempre.

Meu amor não tem pudor. Amo em total descaramento. Meu coração é livre. Vergonha eu só tenho na cara. E é vergonha de não ter elogiado o vestido dela, o sapato, o brinco, o cabelo preso, a língua solta, o jantar que requentaremos no almoço. Fazer o quê? Uma hora eu aprendo. Com tempo e trabalho e coragem, uma hora eu aprendo.

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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