Muito além da burca: É autoritarismo e violação dos direitos humanos!
Texto escrito por Roberta Camargo
Não é a primeira vez que o Talibã governa o Afeganistão. Isso já aconteceu entre 1996 e 2001 e a volta do movimento militante ao poder relembra a fase de autoritarismo e violação dos direitos humanos enfrentados, principalmente pelas mulheres, durante este período.
Antes de falar sobre isso, é importante lembrar que nenhuma dessas violações tem ligação com o Islamismo ou estão previstas no Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos.
A pesquisadora do InterAgency Institute e professora de Relações Internacionais da Universidade de Lusófona, Sabrina Medeiros, explica que no passado existiam restrições severas regidas pelo controle das virtudes, sistema de regras impeditivas que iam muito além das vestimentas, proibindo mulheres de ter acesso à educação e de realizar atividades de trabalho fora de casa, criado pelo Talibã.
Eram regras impeditivas que iam muito além das vestimentas e que proibiam mulheres de ter acesso à educação e de realizar atividades de trabalho fora de casa.
A exceção se dava para médicas e enfermeiras, já que mulheres só podiam ser atendidas por outras mulheres em unidades de saúde.
Desde os anos 70, existem grupos de mulheres que se organizam – de forma pública e secreta – em prol de seus direitos no Afeganistão, entre eles está a Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão, a única organização política de mulheres anti-fundamentalistas que lutam pela democracia e garantia de seus direitos. São movimentos presentes e ativos mesmo antes da ocupação do Talibã.
“É uma rede de solidariedade entre as mulheres que foi extremamente relevante depois da saída do Talibã para a reconfiguração do processo de participação feminina no Afeganistão”, considera Sabrina, contextualizando também que as mulheres são cerca de 70% da população e que o índice de mortalidade entre os homens é maior.
O principal tópico que pode garantir os direitos das mulheres afegãs mesmo com o Talibã no poder: os acordos econômicos.
A economia e os direitos humanos no Afeganistão
“Ainda é muito cedo para falar em retrocesso em relação à luta das mulheres. Existem várias conversas de que o Talibã que está no poder hoje não é o mesmo de 20 anos atrás.
Penso que para que ele tenha emergido tão rapidamente ao poder, ele deve ter negociado questões de direitos humanos com outros países”, inicia a cientista política e antropóloga Francisrosy Barbosa.
Para Sabrina, “é impossível, do ponto de vista econômico, não ter as mulheres como parte do sistema, ainda mais num momento de crise, com redução de postos de trabalho e retirada de capital exterior, a exemplo dos EUA”.
Neste caso, completando o pensamento da cientista política, a presença da China e da Rússia pode qualificar saídas mais razoáveis para as mulheres que vivem naquela região, infelizmente não pelo aspecto dos direitos humanos, mas pelas consequências da falta de cumprimento deles.
A volta do Talibã de modo não-violento até o momento, é altamente expressiva tendo em vista o histórico que o grupo carrega. Ao que tudo indica – e essa é uma história que precisa ser acompanhada capítulo por capítulo – o objetivo depois de 20 anos é construir uma relação com a comunidade internacional e isso depende também de garantir uma situação de vida menos precária para a população, sobretudo para as mulheres.
“Não devemos deixar que se perca as esperanças. Mas devemos ficar atentos para proteger essas mulheres e crianças afegãs dos abusos e da violência. Os acordos internacionais devem ser feitos visando proteger os mais vulneráveis da arbitrariedade.” Iara Fonseca
*DA REDAÇÃO SAG. Via Obvious. Foto: Ohchr/Unama – A violência contra mulheres continua a ser comum no Afeganistão.
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