Não tem antiácido que cure palavras e ofensas indigestas
Não é fácil envelhecer, mas é muito bom amadurecer. A idade retira colágeno de nosso organismo, mas injeta sabedoria em nossas veias.
A gente vai ficando mais forte, mais paciente, menos bobo, menos trouxa. As pessoas vão perdendo o poder de nos ferir, porque os tombos da vida formam uma casca emocional na gente.
Casca capaz de filtrar com mais eficiência o que deve ficar ou não dentro da gente.
A maturidade faz a gente se olhar com mais carinho, faz a gente tentar entender como somos e os motivos que nos levam a agir de um ou de outro jeito.
Costumamos ser muito exigentes com nós mesmos e isso nos faz acumular muita culpa, muito remorso, muito peso.
Amadurecer alivia isso tudo, porque a gente se perdoa mais, a gente se gosta mais, a gente se liberta do que os outros dizem ou pensam. E isso é muito bom.
Com o tempo, a gente começa a dar mais valor a coisas frugais, simples. Passamos a enxergar pessoas que nem víamos antes.
Temos mais memórias acumuladas, uma lista de saudades, cicatrizes e marcas fundas, por fora e por dentro.
Temos a certeza de que nada se controla, nada é uma certeza além do agora.
O tempo junto a quem amamos passa a ter um valor imenso, porque a ideia de finitude fica mais próxima.
A gente quer mesmo é aproveitar o que e quem nos fazem bem.
E a gente para de engolir palavras, sentimentos, desejos, vontades.
A gente se afasta cada vez mais daquele lugar inseguro e massacrante do medo infundado das opiniões alheias.
Nosso ouvido fica mais seletivo, nosso coração também.
Protegemos mais o nosso coração daquilo que possa machucá-lo e nossa habilidade do descarte fica apurada.
Descartar tudo o que incomoda, na vida e aqui dentro, fica mais fácil, mais precioso, sem culpa alguma.
Queremos mais é nos livrar de tudo o que emperra nosso caminhar.
Quando a gente passa mal por comer muito, tem sempre algum remédio para nos curar. Porém, quando engolimos palavras e ofensas, não há antiácido que dê jeito.
Eu já sofri demais por situações pequenas e por pessoas dispensáveis. Hoje, eu observo exatamente como cada um me faz sentir. Eu já não tenho medo de perder pessoas, tenho medo é de perder tempo.
*DA REDAÇÃO SAG. Foto por freestocks no Unsplash.
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