Nem todo o dinheiro do mundo paga o tempo que não passará com seus filhos por conta da quantidade excessiva de trabalho que você se propõe a fazer! E um dia, quando você não tiver mais tempo, verá que faltou afeto, que a ausência gerou distanciamento, e que o tempo não volta, então, será tarde demais.
O mundo moderno exige que nos coloquemos em movimento constante, de tal maneira, que acabamos tendo a sensação de que o tempo voa.
Vivemos a angústia permanente da falta de tempo.
Acreditamos que não termos tempo o bastante para realizar todas as tarefas que queremos, e as quais somos solicitados.
Desejamos tantas coisas que não cabem no dia com suas 24 horas.
Queremos fazer todas as viagens possíveis, conhecer diversos destinos pelo mundo, e a cada dia que passa, nosso querer fica mais exigente.
Compramos vários livros na esperança de que um dia conseguiremos ler todos eles, mas no fundo sabemos que essa é mais uma grande ilusão, e ao comprar, apenas satisfazemos uma necessidade momentânea, nos enganando que, uma hora, arrumaremos um tempo para isso também.
Por um lado, somos cobrados por todos, e principalmente, sentimos uma cobrança interna para sermos bem-sucedidos e conquistar uma situação financeira estável, por outro lado, percebemos que a ânsia em buscar esse conforto material, ou esse Status Cool, nos leva a nos distanciar daqueles que mais amamos, pois passamos mais horas no trabalho e com compromissos profissionais, do que com aqueles que estimamos!
Nos desculpamos dizendo que essa ausência é para assegurar o futuro de todos eles, e que eles nos agradecerão no futuro, quando tiverem estabilidade para fazer as melhores escolhas em suas vidas, e geralmente, essas pessoas que escutam essas nossas desculpas, são nossos filhos, esposa ou marido, pai e mãe, e alguns poucos amigos que ainda insistem em nos chamar para reuniões amigáveis.
Sem que percebamos, essa insistência no aperfeiçoamento, em querer alcançar o topo do mundo, em lançar a teia cada vez mais alto, não passa de uma profunda vaidade incrustada dentro de nós, sabe porquê?
Porque filhos não precisam de, nem pedem um, pai, ou uma mãe, bem-sucedidos!
Filhos precisam de tempo, de orientação de qualidade, de afeto, demonstrações reais e físicas de amor.
Filhos precisam dos pais por perto!
Precisam sentir que podem contar com eles e que são a prioridade, não o trabalho!
Porém, muitos pais insistem em gritar: “ Você não vê que eu estou trabalhando, que menino mais insistente”, e logo chama a Baba, ou a assistente para tirá-lo dali!
O que será que uma criança pensa quando seu pai ou sua mãe agem assim?
Não é difícil imaginar!
Essa situação frequente de rejeição, e de supervalorização do trabalho frente à criança, gera um profundo vazio, um abismo se abre nessa relação, muros são erguidos, e não há dúvidas que uma hora terão que construir uma ponte!
Mas esse buraco negro de afeto que criamos em nossos filhos com a nossa constante ausência trará consequências futuras, pois o sofrimento de hoje marca o presente que será lembrado como passado, e formará o adulto do futuro!
Há que se ter responsabilidade afetiva com os filhos!
Muitos de nós não conhecem, em sua totalidade, as aflições e as alegrias dos próprios filhos!
Sentimos satisfação em trabalhar e poder ter condições de passar em uma loja de brinquedos e comprar aquele item que nós sonhávamos ter na infância, ou mesmo que tivemos e achamos o máximo!
Chegamos em casa bem tarde, os filhos já estão dormindo. Passamos os fins de semana em frente ao computador ou agendando reuniões, mas nos afaga a alma o fato de termos dinheiro para os levar ao parque de diversões e ficar ali fora só assistindo eles brincarem sozinhos.
Trabalhar é necessário, mas trabalhar demais é doentio.
Possuímos responsabilidade financeiras, e trabalhar é necessário!
Não apenas porque, com o trabalho, suprimos as nossas necessidades materiais, dos nossos filhos e entes queridos, mas sobretudo, porque muitos possuem uma paixão arrebatadora pelo próprio ofício.
Paixão essa, que se não medita, pode se tornar um vício.
Esse vício, como todos os outros, tem o poder de ocasionar grandes perdas afetivas e nos distanciar de quem mais amamos.
O problema é que, quem é viciado em trabalho, não consegue se distanciar dele, e começa uma roleta russa, onde todas as áreas da vida passam a ser afetadas negativamente, inclusive a saúde.
Uma criança não compreende o valor de uma moeda, mas compreende a linguagem dos afetos.
Quando temos filhos, devemos ter em mente, que é preciso criar para eles um ninho num abraço! E fortalecer o cotidiano com carinho e atenção!
Educá-los não é função da escola ou da babá, é a nossa função primordial!
E o que eles esperam de nós?
Que caminhemos pela vida desbravando os caminhos ao seu lado.
E quando passamos a tentar suprir nossas ausências constantes com presentes e bens materiais, pensamos que estamos fazendo um bem, levando alegria, e criamos uma conotação perigosa: que a nossa presença está sempre relacionada a um presente!
Mas coisas nunca conseguiram substituir pessoas!
Amor não se compra!
Bens materiais são passageiros!
Podem os distrair por algumas horas, mas a falta de afeto e atenção que sentem, fazem com que o vazio emocional volte a se instalar rapidamente.
Os bens materiais não criam memórias, nem histórias, para contar mais tarde na vida.
O futuro nos contará se fomos presentes o suficiente na vida dos nossos filhos, ou se trabalhamos demais a ponto de deixarmos passar os melhores momentos sem que nos déssemos conta.
Somos ninho e asas ao mesmo tempo.
E se criarmos nossos pássaros da forma correta eles terão asas para sozinhos voarem alto, mas, essas mesmas asas os farão regressar sempre ao ninho como forma de reconhecimento ao afeto que oferecemos na infância.
Mais tarde serão eles que nos aconchegarão quando nós próprios já não conseguirmos voar sozinhos, pois amor com amor se paga.
Estejamos conscientes que uma criança só será feliz e completa se tiver de nós toda a atenção que necessita na medida certa.
Você ainda tem tempo!
Invistam em tempo de qualidade com os seus filhos!
Criem rotinas que se tornem momentos exclusivos de vocês!
Compartilhem assuntos, hobbies, interesses em comum!
Falem, discutam, briguem, mas demonstrem interesse pela vida dos seus filhos!
Não com cobranças absurdas e exigências incabíveis de alta eficiência escolar e em dezenas de atividades extracurriculares, aos quais, são obrigados a participar, mas busquem conhece-los bem, saber o que gostam, quais são suas paixões, no que são bons, quais são seus talentos, e incentivem isso neles!
Divirtam-se com eles!
A diversão permite que cresçam juntos, e passem para uma nova fase da relação, a fase onde o sentido de reciprocidade é aprendido!
Crianças com os pais presentes são mais felizes e certamente serão adultos mais felizes e realizados.
Invista em seu filho, não com dinheiro, mas com afeto! Para que no futuro você possa se orgulhar do ser humano que ele se tornou, e do pai ou mãe que você foi.
*texto de Fabiano de Abreu – Doutor e Mestre em Psicologia da Saúde pela Université Libre des Sciences de l’Homme de Paris; Doutor e Mestre em Ciências da Saúde na área de Psicologia e Neurociência pela Emil Brunner World University;Mestre em psicanálise pelo Instituto e Faculdade Gaio,Unesco; Pós-Graduação em Neuropsicologia pela Cognos de Portugal;Três Pós-Graduações em neurociência,cognitiva, infantil, aprendizagem pela Faveni; Especialização em propriedade elétrica dos Neurônios em Harvard;Especialista em Nutrição Clínica pela TrainingHouse de Portugal.Neurocientista, Neuropsicólogo,Psicólogo,Psicanalista, Jornalista e Filósofo integrante da SPN – Sociedade Portuguesa de Neurociências – 814, da SBNEC – Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento – 6028488 e da FENS – Federation of European Neuroscience Societies-PT30079.
E-mail: deabreu.fabiano@gmail.com
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