Fiquei muito surpreso vendo algumas mulheres protegendo o Papa nas redes sociais, e fora delas, em sua atitude agressiva com a fã. Pois bem, minhas caras, o Papa errou e errou feio.
Sim, a mulher foi inconveniente e até desrespeitosa, mas grudar na mão do Papa em devoção está longe de ser uma agressão, sem falar que tinham alguns seguranças a sua volta prontos a tomar uma atitude antes do Papa se precipitar a estapeá-la.
A verdade é que diante da iminência de uma terceira guerra mundial, Vossa Eminência rateou.
Nem um homem comum deveria ter aquela reação, quanto mais um ícone de Deus que representa santidade e bondade.
O mundo precisa de exemplos de paz e, principalmente, promulgadores da fé Cristã que sigam o exemplo de Jesus sendo uma influência positiva à humanidade, uma vez que a principal função de qualquer doutrina religiosa é apregoar atitudes exatamente contrárias ao do nosso, até então, querido Papa.
Diante da crescente violência contra as mulheres e o aumento das estatísticas de feminicídio. Da busca suada e dolorida delas por respeito e espaço, o Papa errou feio, pois, se Vossa Santidade tem o direito de falhar ao agredir com tapas uma devota que buscava por um conforto diante de Deus, que ansiava por uma benção, uma palavra de fé, então, um marido machista pode se autorizar, mais equivocadamente ainda, a esbofetear a mulher quando ela não quiser dormir com ele, por exemplo.
Ou um ex que não aceita o fim do relacionamento, pode decidir comprar uma arma.
E é uma escolha inconsciente que toma um homem predisposto à violência e tira dele a possibilidade de raciocinar o direito de agredir ou matar uma mulher de forma consciente, porque a atitude do Papa, associada a outros fatores particulares pode – e pode mesmo – internalizar o valor de que se a Santidade máxima arrisca-se a dar uns tapas em público, eu, que não sou nenhum santo, posso praticar agressões domésticas.
Porque a atitude de máxima violência de um homem comum pode ir muito além de dois tapas na mão.
E ninguém pode controlar a mente das pessoas nem essa permissividade sentimental que damos a pessoas importantes.
Um valor torto que precisamos inverter, pois, o fato de uma pessoa ser um líder, em qualquer área, não lhe dá o direito de se equivocar, pelo contrário, confere a si a obrigação de ser exemplo, de tentar ser infalível e levar com precisão todos os valores que sua liderança representa. Aliás, esses são os critérios da sua escolha para a posição.
Até porque isso dá margem a um relativismo conveniente e egoico na opinião sobre as atitudes alheias.
Eu me torno juiz dos atos do outro. Então, se a pessoa me agrada eu aceito sua falha, caso ela seja um desafeto, deve ser punida.
Isso não é justo, e nenhuma sociedade funciona com essa postura avaliativa egoísta e interesseira porque o erro não está na pessoa, mas nas ações que são cometidas.
Não importa se quem cometeu o estapeamento à mulher foi o adorado Papa ou o destemido Presidente do Brasil, uma conduta como essa e tantas outras não pode ser permitida a alguns e proibida a outros.
Isso leva ao caos porque não é um certo ou errado pessoal, particular, que a gente mesmo pode decidir, mas uma correção que compete às regras necessárias para a convivência social, para a construção de um mundo melhor, que já existiam antes de nós e, as quais tentamos aprimorar todos os dias para evitar exatamente isso: Um Papa estapeando uma beata.
O fato de ser o líder da maior religião do mundo não releva o incidente, não o perdoa, pelo contrário, potencializa um simples erro a um total absurdo.
Sorte dele que lá no Vaticano não existe a lei Maria da Penha. E azar de todas as mulheres do mundo.
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