O verdadeiro poder da meditação não está no método, mas na capacidade de mudança de perspectiva sobre a vida! É finalmente entender que sofrimento sempre se encontra no passado e no futuro, no presente, tudo está bem, é nele que você precisa estar.
Por que sentir-se mal a respeito de si mesmo, quando você naturalmente, já possui consciência, bondade amorosa e sabedoria?
Mingyur Rinpoche nos ensina como olhar através daquilo que é temporário e descobrir nossa própria natureza búdica.
O mundo moderno se apaixonou pela prática da meditação. Meditadores sorridentes estampam capas de revista. Diretores de empresas trazem a prática de “mindfulness” para o ambiente de trabalho.
Até mesmo as crianças estão aprendendo a meditar nas escolas.
Ao ver todas estas imagens e ouvir todas essas estórias, é natural pensar que o objetivo da meditação seja, simplesmente, nos sentarmos em uma determinada posição e seguirmos uma determinada técnica.
Mas o verdadeiro poder da meditação não está no método. Está em nossa mudança de perspectiva.
No Budismo Mahayana, damos a isto o nome de “visão”. A visão não é uma técnica. É o modo como vemos a nós mesmos e como nos relacionamos com nossos próprios pensamentos e emoções.
Sem uma mudança na nossa visão, até mesmo as técnicas de meditação mais poderosas servirão apenas para reforçar velhos hábitos e padrões.
A visão essencial da nossa natureza búdica é, ao mesmo tempo, profunda e simples: você já é perfeito, do jeito que é, neste exato momento.
O problema com esta visão é que ela não parece muito real para nós. Ao focarmos nas negatividades que obscurecem nossa natureza búdica, não conseguimos experiencia-la em nós mesmos.
Eu não conseguia.
Cresci no meio do Himalaia, bem no sopé do Monte Manaslu, a oitava montanha mais alta do mundo. Na minha família, havia uma grande quantidade de meditadores e eu mesmo fui reconhecido como um lama reencarnado – o que, no Tibete, chamamos de tulku – ainda em tenra idade. Nasci dentro de um conto de fadas.
Mas isso era apenas na superfície.
Apesar do lindo ambiente em que cresci, e apesar da família amorosa e dos exemplos de praticantes espirituais que me cercavam, nos meus primeiros anos de vida eu vivia em estado constante de ansiedade.
Estava com sete anos de idade quando comecei a experimentar ataques de pânico. O pânico me perseguiu como uma sombra durante grande parte da minha infância.
Foi também por volta desta época que comecei a ouvir falar em natureza búdica.
Meu pai, um famoso mestre do Dzogchen, me falou a respeito da visão da natureza búdica, mas eu simplesmente não podia acreditar. Pelo menos, não acreditava que aquilo fosse verdade em relação a mim.
Minha realidade era o medo e o pânico; a natureza búdica soava como uma mera fantasia. Aquela era a experiência de outra pessoa, não a minha.
Quando comecei a aprender a meditar, esperava que a meditação me ajudasse a me livrar de todas as minhas falhas e dificuldades.
Todas as pessoas que eu conhecia pareciam muito calmas e confiantes, enquanto eu vivia imerso em ansiedade.
A meditação me atraía porque eu imaginava poder criar um novo “eu”, uma versão melhorada.
Alguém livre de todo aquele medo e ansiedade.
Alguém que não fosse assim, tão hipersensível e facilmente desencorajado.
Então, com todo afinco, eu tentava meditar para alcançar a libertação.
A meditação tornou-se a minha arma no combate à minha própria mente. Mas aquilo não estava funcionando. Havia momentos em que a minha mente estava tranquila e o pânico parecia ter desaparecido, mas então ele ressurgia com força redobrada, e toda a pouca confiança que eu tinha cultivado se desvanecia como neblina.
A grande virada veio quando, finalmente, eu desisti.
Eu vinha lutando com as minhas emoções por tanto tempo, e com tão pouco sucesso, que finalmente me permiti considerar uma nova possibilidade: talvez eu não pudesse ser consertado – não porque eu era fundamentalmente defeituoso, mas sim porque eu não estava quebrado.
E foi assim que parei de jogar o velho jogo e comecei um jogo novo.
Ao invés de combater meu pânico e empurrar para longe meus pensamentos amedrontadores e minhas expectativas cheias de ansiedade, deixei que eles entrassem em casa.
Não estava focando neles, mas também não os estava ignorando.
Simplesmente abri mão de todo o “fazer” e, afinal, me permiti “ser”, simplesmente.
Gostaria de poder dizer que foi aí que a terra tremeu e as nuvens se abriram, mas a verdade é que, no início, largar o impulso de sempre estar “fazendo” alguma coisa foi bem inconfortável e pouco familiar.
Meus impulsos não desapareceram, mas comecei a permitir que eles viessem e fossem embora sem ter que segui-los – até mesmo o impulso para “meditar”.
Eu não estava fazendo nem isso. Estava apenas ali.
Aquilo era uma coisa tão simples e comum, mas foi uma mudança radical: eu não estava mais tentando ganhar o velho jogo.
Naquele momento de “deixar tudo ir”, pude começar a ver que tinha me enganado completamente quanto ao objetivo da meditação.
Em minha busca sem fim para melhorar o momento presente, estava ficando cego para o que já estava e está sempre presente.
A natureza búdica.
Nossa perfeição inerente. Nossa verdadeira natureza.
Como a minha própria experiência demonstra, não é fácil abrir mão da visão de que somos fundamentalmente defeituosos.
Em nosso dia-a-dia, recebemos muitas mensagens que nos dizem exatamente o isso.
Não somos suficientemente inteligentes, bonitos nem bem-sucedidos.
Se ao menos pudéssemos trabalhar mais, escolher melhores alimentos ou ser um pouco menos estressados, então, talvez, finalmente nos sentíssemos bem.
A suposição básica por trás de todas essas mensagens é a de que nós não somos bons o bastante, e talvez nunca chegaremos a ser.
Não importa o que conquistemos na vida, como nos pareçamos ou quão alto tenhamos galgado a escada do sucesso.
Há sempre alguma coisa faltando.
Mas, se não questionarmos essa suposição, a meditação pode facilmente se transformar em uma forma sutil de agressão.
Podemos até conseguir acalmar as águas turbulentas da mente por alguns breves momentos, mas vamos acabar reforçando nosso velho hábito de enxergar apenas as nossas falhas.
Assim como com tudo o mais em nossas vidas, não importa o que façamos e não importa o quanto nos esforcemos, sempre vai haver outra montanha para escalar.
Não existe maneira de ganhar este jogo.
Reconhecer nossa natureza búdica não é um modo melhor de jogar o velho jogo.
É um jogo completamente diferente.
O princípio da natureza búdica nos convida a explorar a nossa experiência de uma nova maneira – não com o olhar de se corrigir o que está errado, mas para o que sempre esteve certo.
Nossa Consciência Espontânea
Uma das primeiras qualidades da natureza búdica a que os meus professores me apresentaram foi a consciência.
A consciência é como um fio que percorre todas as experiências que temos.
Nossos pensamentos e emoções estão em constante mudança.
Nossas reações e percepções também vêm e vão. No entanto, apesar dessas mudanças, a consciência está sempre presente.
Ela é aberta e receptiva como o céu, incomensuravelmente vasta e profunda como o oceano e estável e duradoura como uma imensa montanha.
A consciência não é melhorada quando temos um pensamento inspirado ou sentimos uma emoção sublime.
Ela também não é piorada quando estamos sendo completamente neuróticos.
A consciência apenas é. Não é algo que fazemos. É quem nós somos.
E já que a consciência está sempre presente, a única coisa que precisamos fazer é reconhece-la.
Nós não precisamos melhora-la, e, mesmo que tentássemos, não conseguiríamos.
O grande desafio em relação à consciência é que ela está tão próxima que não conseguimos vê-la.
É tão corriqueira que não acreditamos nela.
A consciência é, simplesmente, uma presença espontânea que conhece.
Quem está lendo este texto agora? Quem está tendo esta experiência?
A consciência.
Esta consciência é quem você é agora, neste exato momento.
Vamos fazer uma pequena prática para experimentar esta consciência sem esforço:
Antes de continuar a ler, faça uma pequena pausa.
Abra mão do “fazer” por uns instantes e permita-se “ser”.
Não medite usando a respiração…apenas respire.
Não medite usando o som… apenas ouça.
Agora não faça nada. Apenas esteja aqui.
O que quer que este momento traga para você, apenas experiencie isto, do jeito que é.
A consciência em si mesma é integral e completa.
Ela está sempre aqui e pode acomodar qualquer coisa.
Você pode falar, você pode se mover, você pode até mesmo ler, como está fazendo agora. E tudo isso está acontecendo no âmbito da sua consciência.
Nosso Amor e Compaixão Naturais
Esta presença espontânea não é um estado vazio e sem vida.
É algo vivo e profundamente engajado com o mundo.
Quando estamos simplesmente presentes com o que está acontecendo dentro de nós mesmos e à nossa volta, vemos emergir um sentido natural de amor e compaixão.
Assim como a consciência, estas qualidades não são alguma coisa que precisamos desenvolver ou cultivar. São qualidades inerentes à nossa verdadeira natureza.
As sementes da compaixão estão presentes no nosso mero desejo de evitar a dor e o desconforto.
O amor está presente em nosso movimento em direção à felicidade e à realização.
A cada momento, experimentamos estes movimentos.
A cada vez que mudamos de postura ou piscamos os olhos para evitar o desconforto, estamos expressando compaixão. A cada vez que desfrutamos de um gole d’água ou sorrimos de volta para uma pessoa amiga, estamos experienciando amor.
O amor e a compaixão tornam-se presentes quando menos esperamos.
Estão presentes mesmo no interior das emoções aflitivas, como o medo e a raiva, já que estas reações têm sua raiz no impulso de evitar a dor e o desconforto e de experimentar a felicidade e o bem-estar.
O amor e a compaixão estavam presentes nos meus ataques de pânico.
Eu não queria sofrer mais.
Eu queria me sentir seguro e protegido.
Só não sabia onde procurar. Mas o que não conseguia ver era que o instinto de buscar a felicidade e me libertar do sofrimento sempre tinha estado lá.
Pare por alguns instantes e veja se consegue perceber estas qualidades.
Você sente o impulso de se afastar do desconforto, ou de evitar algo desprazeroso?
Apenas observe.
Este sentimento é compaixão.
Você consegue sentir o desejo de experienciar alegria, contentamento ou, simplesmente, sentir-se inteiro?
Repouse por um momento e veja o que consegue perceber.
Este movimento sutil em direção à felicidade é amor.
Quando terminar de ler este texto e seguir para o seu dia, procure notar estas qualidades nas outras pessoas também. Elas são como os raios de sol. Sempre que a consciência está presente, o amor e a compaixão também estão lá.
Nossa Sabedoria Inata
Outra qualidade essencial da nossa natureza búdica é a sabedoria.
Todos nós temos uma visão interior profunda. Podemos nem sempre percebe-la, mas ela está lá.
Estamos todos procurando desesperadamente por alguma coisa. Nem sempre sabemos o que é, mas sentimos que algo está faltando. Então continuamos procurando sem parar.
A sabedoria é a companheira constante desta busca ininterrupta.
Em algum nível profundo, todos sabemos quando estamos procurando no lugar certo. E quando estamos recaindo em um velho hábito, também sabemos que nos perdemos no caminho.
Nem sempre escutamos esta voz, mas ela está lá.
Somos como um passarinho, voando de galho em galho, procurando o nosso ninho.
Sabemos reconhecer nosso lar quando o encontramos, e, enquanto não tivermos chegado, sabemos que continuaremos procurando.
Quando começamos a mudar do “fazer” para o “ser”, começamos a experimentar aquela sensação de finalmente chegar em casa.
Podemos abandonar a busca e relaxar.
Quando isso acontece, ninguém precisa nos avisar.
Este reconhecimento intuitivo é sabedoria.
Cada pensamento, cada emoção e cada impulso brota desta sabedoria. Nós apenas precisamos reconhece-la.
Sendo a Natureza Búdica
Se a consciência, a compaixão e a sabedoria fossem qualidades que pudéssemos obter ou desenvolver, faria todo o sentido fazermos alguma coisa para cultiva-las. Mas nós não precisamos cultiva-las, porque elas já são parte da nossa natureza básica.
Nós já as possuímos.
Qualquer tentativa de modificar, consertar ou melhorar o que está acontecendo no momento presente reforça a velha crença de que estamos perdendo alguma coisa. Por outro lado, se não fizermos nada, estaremos no ponto em que começamos. Nada irá mudar.
A chave para este paradoxo é o reconhecimento.
A natureza búdica não é algo que fazemos, mas algo que precisamos reconhecer.
Um modo simples de explorar isso na sua prática meditativa é parar de tempos em tempos e simplesmente ser.
Se a sua meditação habitual envolve focar na respiração, largue a meditação de tempos em tempos, e apenas seja.
Não controle sua atenção de nenhuma maneira.
A atenção é como a brisa; a consciência é como o próprio céu.
Você não precisa acalmar a mente. A consciência já é calma em si mesma.
Quaisquer pensamentos ou emoções que surjam podem ser deixados de lado.
Não existe uma única experiência que seja capaz de impedir a consciência.
Apenas deixe que todos os pensamentos e emoções estejam ali e perceba que a consciência está ali também.
Se você estiver consciente da sua consciência, isso já é o suficiente.
No começo, tudo isso pode parecer pouco familiar.
Pode ser até um pouco perturbador e é quase certo que você vá experimentar algum resíduo daquele impulso de “fazer”.
Isso é normal.
Conforme a sua familiaridade com esta qualidade de “ser” for crescendo, você vai começar a perceber que a compaixão e a sabedoria estão bem ali. E vai se dar conta de que nunca chegará a ser mais perfeito do que já é agora, neste exato momento.
O sofrimento sempre se encontra no passado e no futuro, no presente, tudo está bem, é nele que você precisa estar.
*DA REDAÇÃO SAG. Com informações de Buda Virtual
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