O segredo para tomarmos atitudes baseadas em nossos mais profundos desejos está em ouvir a intuição e aprender a nela confiar. Se não houver brilho nos olhos e calor no coração, não siga por esse caminho. Por mais que a análise dos fatos te diga o contrário.
O coração tem razões que até a razão desconhece. A frase é do matemático e filósofo francês Blaise Pascal, que viveu no século 17, e pode ser interpretada como o poder da intuição na tomada de decisões.
O chamado sexto sentido, ou intuição, é uma certeza que temos baseada em aspectos que transcendem o racional. Mesmo antes de um fato se tornar negativo, já pressentimos que ele não vai dar certo. Ao conhecermos uma pessoa vamos tendo impressões sobre ela que podem não “bater” com tudo o que se apresenta. Mas lá no fundo intuímos e, invariavelmente, prevalece a sensação inicial que tivemos.
A intuição é considerada a faculdade ou ato de perceber, discernir ou pressentir coisas, independentemente de raciocínio ou de análise. Em entrevista à Revista Superinteressante de maio de 2015, a psicóloga Virgínia Marchini, fundadora do Centro de Desenvolvimento do Potencial Intuitivo, de São Paulo, define intuição como uma forma de conhecimento que está dentro de todos nós, embora nem todas as pessoas saibam utilizá-la.
Segundo ela, a palavra intuição vem do latim intueri, que significa considerar, ver interiormente ou contemplar. “A mente intuitiva abre-se a respostas inovadoras e não dogmáticas, mas aprender a confiar na intuição é um grande desafio, pois o senso comum ainda considera a intuição um conhecimento de risco”. diz Virgínia. Já o psiquiatra Carl Jung dizia que cada um de nós tem a sabedoria e o conhecimento que necessita em seu próprio interior.
Por que motivo, então, tendemos a negligenciar a intuição e buscamos racionalizar em torno de problemas e situações que nos tiram o sono e nos deixam indecisos?
Dúvidas em torno de relacionamentos, carreira, postos de trabalho, atitudes vão se acumulando em nosso dia a dia. Na tentativa de tomar a melhor decisão possível, vamos atrás de explicações racionais, de análises sob todos os pontos de vista, do auxílio de especialistas. Muitas vezes, não nos convencemos apesar das evidências racionais que se colocam. É que entra em cena o sexto sentido que nos diz, lá no fundo, que alguma coisa está errada e que não devemos seguir naquela direção.
Imagine quanto esforço desperdiçado na tentativa de seguir uma carreira que não nos mobiliza o coração? Quanta gente permanece em relacionamentos tristes e doentios apesar de sentir uma vontade enorme de sair correndo e viver em liberdade? Quantos medos racionalizados nos mantém reféns de situações que vão aos poucos minando nossa alegria e felicidade?
Às vezes nos deparamos com pessoas que tomam atitudes de forma muito rápida e seguem seus desejos sem pestanejar.
Costumamos achá-las malucas por se atirarem de corpo e alma aos projetos de vida sem ao menos pensar nas consequências. E as admiramos quando as vemos realizadas em suas conquistas. Se algo não deu certo, elas souberam dar a volta por cima com a mesma determinação. É que elas seguiram o coração e perderam pouco tempo nas racionalizações, apenas o suficiente para pesar pós e contras e decidir.
Para a psicóloga Virgínia, a chave para confiarmos na intuição está numa postura mais reflexiva e no desenvolvimento da autoconfiança.
“Devemos confiar na intuição à medida que a autoconfiança e o autoconhecimento permitam ao indivíduo separar a intuição dos seus medos e desejos”, diz. A afirmação nos mostra que confiar na intuição está diretamente relacionada à nossa autoestima. Pessoas com baixa autoestima têm mais dificuldade em acreditar na inteligência intuitiva em função de uma desconfiança em relação a tudo o que venha de seu interior. A saída, nesse caso, é racionalizar ao máximo na tentativa de obter o sucesso que os sentidos estão a gritar. Mas nem sempre a racionalização – que vem recheada com nossa insegurança – atende aos clamores da alma.
O segredo para tomarmos atitudes baseadas em nossos mais profundos desejos está em ouvir a intuição e aprender a nela confiar. Se não houver brilho nos olhos e calor no coração, não siga por esse caminho. Por mais que a análise dos fatos te diga o contrário.