Antes preciso me apresentar, tenho 37 anos, sem filhos, divorciada, um curso superior e duas pós-graduações, emprego estável e família estruturada… viu?! Relacionamento abusivo não escolhe tipo físico, grau de instrução nem nível social… a gente vive um conto de fadas e de repente… olha você ali no olho do furacão sem saber definir como tudo começou…
Sempre tive minha autoestima muito baixa, sofri a vida inteira com obesidade, dei meu primeiro beijo aos 18 anos, perdi minha virgindade aos 27 (quase 28), poucos namorados, insegura e eis que surge o príncipe encantado – e ele quis casar comigo! – Mas a primeira condicionante surgia, ele me fez escolher entre o sonho de me casar na igreja (a maior frustração que daria aos meus pais, pois sou a única filha com a qual eles também sonharam com esse momento… se eu me perdoo por isso?! Jamais… lembrar do quanto os fiz chorar me dói até hoje.), ou me casar com ele, o que eu fiz? Me casei no Civil…
Ficamos casados por 4 anos e a 1 ano e 3 meses estamos divorciados….
Como acabou o casamento? Acordei para vida? Percebi o que estava acontecendo!
Nos primeiros anos era tudo perfeito, eu estava feliz com a vida de casada, um marido engraçado, inteligente (era psicólogo e pós-graduado em gestão de pessoas), socialmente interagido e cercado por amigos, muitas viagens e passeios, um filho perfeito vindo de uma família unida e feliz, e eu ali, a escolhida, ao lado dele…
Logo no primeiro ano de casados ele ficou desempregado, assumiu a parcela do financiamento do apartamento, e eu, todas as outras despesas…. Trabalhava de dia, cuidava da casa à noite e finais de semana faxinava!
Ele havia se acomodado com a vida fácil, era sustentado e durante todo o período de casados tentou trabalhar uma vez, durou 6 meses, e lá estava novamente desempregado… jogava futebol, saia com amigos para beber e aproveitava a vida!
Minha visão era de que a vida era linda e provavelmente estaria assim até hoje… vivi 6 anos ao lado de uma pessoa que disse me amar uma única vez, e quando comentei isso um dia aleatoriamente, afirmou que certamente estava muito bêbado!
Detalhe, diariamente eu afirmava da forma mais pura o quanto o amava….
Como o casamento acabou?
Uma traição… sim… ele me traiu! Assinou chat de relacionamento, aproximou de mulheres no bairro, me ignorou, me arruinou e pluft… um belo dia peguei a mensagem em que convidava uma estranha para conhecer o nosso apartamento!
Um choque… meu mundo desabava…se meu mundo era ele, o que seria de mim?!
O que me salvou?
Dois anjos que Deus colocou em minha vida, minha chefe e minha psicóloga!
Eu me afogando e tive de confrontar a realidade! E acreditar que eu não merecia viver daquela maneira foi inteira responsabilidade da “CHEFA” e da terapia… muitas sessões e o entendimento, eu era absolutamente manipulada por ele…
Um psicólogo utilizando de seus conhecimentos da mente humana para ferir o próximo!
Nossa… e olha o castelinho de areia sendo levado por uma onda brutal chamada Mônica, minha psicóloga.
Só nesse momento percebi que o relacionamento abusivo não se evidencia apenas nas agressões físicas, mas principalmente nas psicológicas, coisas banais, mas que afetam diretamente o outro tornando-o passivo e submisso…
E eu era uma vítima para compor a estatística, mas logo eu!
Nunca tive a intensão de expor minha vida, sempre fui muito discreta, mas informalmente, durante uma conversa, relatei parte de minha história para uma colega de serviço e ela me mostrou que deveria compartilhar essa experiência com outras mulheres que também vivenciam o mesmo…
Sentar em frente a um computador e reviver tudo não é nada fácil, mas decidi que não deveria silenciar comigo essa experiência de vida! Relatarei alguns fatos, mas os atos agressivos eram constantes e rotineiros, intensos… e as feridas causadas, extremamente profundas.
Por 4 anos descobri o sentido pleno da frase “ é solitário andar por entre a gente… é dor que desatina sem doer”…
Estive confinada a uma rotina imposta a mim, nunca me senti protegida ou amada…
Mendiguei carinho e atenção…
Vivia em um mundo que não era meu e repleto de migalhas…
Os amigos que convivíamos eram os dele e quando afirmava gostar de alguém me deixava claro que os amigos eram dele e que se algum dia terminássemos os amigos continuariam com ele e eu seria sozinha….
Quando cochilava no sofá era acordada com gritos e de forma agressiva…
Era ignorada por vários dias sem uma palavra…
Chorava e acreditava ser merecedora daquilo e que lá no fundo ele me amava!
Acreditei nesse amor…
Muitas vezes apareci na casa dos meus pais com manchas roxas na perna ou no braço e sempre que perguntada nunca sabia a causa, mas na verdade ele já me machucava fisicamente, não ao nível de agressão declarada, mas com brincadeiras brutas onde chutes e pegadas brutas se faziam presentes e deixavam marcas na pele e na alma…
Diariamente era chamada de gorda, de feia e demais adjetivos pejorativos e sempre absorvi aquilo como sendo a verdade absoluta de minha vida e voltei a engordar…
Ele trouxe para o meu presente um passado que jurava nunca mais vivenciar! Dizia que ninguém me acharia bonita e que nenhum homem desejaria uma mulher como eu…
Se#o?!
Era exclusivamente a satisfação dele, sempre de olhos fechados e de forma fria. Se estivesse dormindo para me acordar cuspia em mim ou me cutucava com os pés… sem toques, carinhos ou emoções!
Já era definida por ele como sendo a empregada, funcionária, faxineira, escrava nas conversas que aconteciam nas rodas de amigos em tom de brincadeira, mas o sentimento de humilhação já se tornara uma constante…
Quando saiamos juntos ele encarava e cobiçava mulheres em minha frente e eu ali… sofrendo calada!
As “amigas” se faziam cada vez mais presentes e necessárias na vida dele enquanto eu era isolada e afastada das pessoas que amava…
Era criticada ao atender ligações de familiares, meus pais / irmão / cunhada e afilhada não podiam ir a minha casa sem antes marcarem… minha melhor amiga já não frequentava minha casa por causa dele, meus amigos, colegas e familiares não podiam me visitar sem a autorização dele, a esposa do melhor amigo já não era boa influência e queria me afastar dela também…
Eu me vi perdida e sozinha, no fim do casamento recorri aos familiares dele e fui julgada como sendo a louca, ciumenta e possessiva… “Ele jamais faria coisas do gênero pois era uma pessoa muito estruturada e resolvida para isso! ”.
O fim foi declarado… a traição identificada e meu limite atingido… sai de casa e a terapia foi necessária para aceitação e compreensão do que vivi.
Hoje percebo claramente que o abusador é frio, calculista, cativante, simpático, comunicativo e extremamente inteligente… A manipulação é uma constante em sua vida sejam nos relacionamentos matrimoniais e até mesmo os vínculos de amizade! Você jamais penetrará nos reais sentimentos da pessoa, pois os mesmos são friamente isolados e/ou inexistentes.
Vivi 6 anos ao lado de uma pessoa que sente prazer em machucar ao próximo, sua superioridade era feita através da manipulação e submissão…nem o câncer da mãe, nem o câncer do pai foram capazes de modificá-lo… sua soberania e egocentrismo imperavam sobre tudo e todos!
A terapia é essencial para que possamos sair do precipício, mas acima de qualquer coisa o amparo e suporte da família é a corda que verdadeiramente te puxa para fora do fundo…
Ah o que seria de mim sem minha família e os muitos colos recebidos?!
Ah, como Deus preparou tantos abraços para me receberem…
… e a Fé?! Nunca questionei os designos de Deus apenas confiei no que estava trilhado para mim… que após os espinhos, novas flores reapareceriam em meu caminho!
Um ano e três meses livre de amarras… conheci uma pessoa muito especial (hoje meu namorado) que renasceu a mulher que havia virado cinzas em mim e me impulsiona a melhorar ainda mais!
Acreditar e confiar?! Sim é sempre preciso…
Enxergar a ausência de felicidade e a realidade de forma crítica não é nada fácil… sair do buraco onde entramos é aparentemente impossível… crer que não estamos sozinhos é um grande desafio…
Vejo o quanto sou amada e que os amigos dele que valiam a pena vieram comigo (pois se tornaram também meus amigos) e a felicidade hoje é constante e plena!
É a vida seguindo seu fluxo…
Para encerrar, preciso me apresentar… 37 anos, divorciada, sem filhos, pós-graduada, muito amada, plenamente realizada, cercada de amigos, extremamente forte e feliz!
Todo mundo vai errar um dia, mas não dá para desculpar quem repete o mesmo…
VOCÊ ESTÁ SOLTEIRA OU SOLTEIRO? OU VIVE UM AMOR QUE NÃO SE ASSEMELHA EM NADA…
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